Juro a vocês que, depois de ouvir mais atentamente ao disco novo d’O Rappa, achei que a versão para “Súplica Nordestina” não estaria ali gratuitamente, afinal, estamos falando do Rappa, uma banda que levanta bandeiras e tal.
Então pensei que o clássico gonzagueano seria uma brecha para o grupo falar da transposição do Rio São Francisco, um assunto palpitante aqui no Nordeste.
Mas não.
Aliás, tive a impressão que os caras comeram mosca e não ligaram uma coisa a outra. Pode ser que agora eles incluam o discurso da transposição em meio à música.
Aqui está a matéria que eu publiquei no Jornal da Paraíba de quinta-feira (21):
Em novo CD, Rappa grava clássico de Gonzagão em ritmo de reggaeFé, cidadania, violência urbana, Rio de Janeiro, gente. O Rappa está de volta aos temas que fi zeram a fama do grupo carioca nos últimos 15 anos em um dos melhores álbuns da banda,
7 Vezes (Warner, R$ 32,90, em média), que acaba de chegar às lojas. Cinco anos separam o novo CD do último trabalho de estúdio (
O Silêncio que Precede o Esporro) e entre um e outro, o grupo emplacou um ótimo disco acústico.
“A turnê do
Acústico MTV era para ter ficado sete meses na estrada e ficou dois anos. Depois, a gente passou um ano aprontando este novo CD”, justifica o guitarrista Xandão, que completa: “A gente não tem essa obrigação com a gravadora de ta fazendo disco. A gente faz quando acha que tem algo a mostrar”.
Xandão, que é paraibano, falou com o JORNAL DA PARAÍBA no Mada, em Natal (RN), na madrugada da última sexta-feira. Tinha acabado de fazer um dos últimos shows da turnê que passou por João Pessoa em junho, cujo repertório não deu brechas para o novo disco. ‘7 Vezes’ terá lançamento nacional em uma temporada de três dias no Canecão (RJ) a partir do próximo dia 28.
A nova turnê já tem datas até o final do ano e passa por Campina Grande no dia 30 de novembro. “A gente nunca foi a Campina Grande e fica muito feliz de poder ir agora, com o disco novo. Nossa história sempre foi na estrada, uma banda que está o tempo todo ao lado da galera. A gente faz o máximo que puder para chegar o mais longe possível”, conta Xandão.
7 Vezes traz 13 músicas d’O Rappa (das quais, 10 do Marcelo Lobato) e uma versão para “Súplica Cearense”, de Gordurinha e Nelinho, uma das canções mais famosas do repertório de Luiz Gonzaga. “O Falcão tinha um disco do Luiz Gonzaga e quando ele viu a letra, adorou. Daí foi mostrar pra gente”, conta Xandão, revelando que o grupo nem sequer chegou a ouvir a música original. Da letra, extraíram um reggae onde Falcão canta como se fosse Peter Tosh.
“Foi a letra que nos fez gravar a música. Eu mesmo não conheço a música, nunca ouvi nenhuma gravação ou regravação dela”, admite o guitarrista.
Dos versos “Oh Deus, perdoe esse pobre coitado / Que de joelhos rezou um bocado / Pedindo para a chuva cair sem parar”, “Súplica cearense” envereda pela problemática da seca no Nordeste, o que, vindo de uma banda engajada como O Rappa, poderia levar a pensar se tratar de uma abordagem à transposição do Rio São Francisco, assunto palpitante nos dias atuais na região. Mas Xandão nega.
“A gente até gosta de abordar essas questões políticas, mas é preciso ter um embasamento muito forte”, justifica. “Eu até vi um deputado, que eu não sei dizer agora qual, dizendo que não basta que pessoas que nunca beberam daquela água, nunca tomaram banho naquele rio, dizerem como deve ser. Os povos ribeirinhos, os estados que são margeados por aquele rio é que devem dar suas versões dessa história toda.
Seria prepotência da minha parte chegar e discursar sobre qualquer tipo de tema em relação a isso, até porque não vivo lá, não sei quais são as dores daquele lugar”, disse.