quinta-feira, 16 de julho de 2009

Afrosambas revisited


Para quem não leu no Jornal da Paraíba, disponibilizo, aqui, o texto que fiz sobre um dos melhores discos de 2009 até agora: Afrosambajazz, de Mario Adnet e Philippe Baden Powell (foto acima - crédito:Nelson Faria/divulgação). A matéria foi publicada na edição de 15 de julho de 2009:

CD ‘Afrosambajazz’ é um grande tributo ao legado de Baden Powell

Baden Powell (1937-2000) é um desses gênios da MPB. Violonista talentosíssimo, foi um músico notável e um profícuo compositor. Seu legado mais celebrado é justamente uma bênção para ouvidos: os afrossambas, feitos nos anos 1960, com a nobre parceria de Vinícius de Moraes. Esses mesmos afrossambas inspiraram, este ano, um dos melhores lançamentos de 2009: AfroSambaJazz, editado pela Biscoito Fino.

Por trás das releituras de 16 composições de Baden estão dois músicos bem íntimos da obra do carioca: o mais velho dos dois filhos dele, Philippe Baden Powell, pianista de mão cheia e produtor, e o também violonista e arranjador Mario Adnet, músico experiente e o grande nome por trás de discos soberbos, como Ouro Negro e Jobim Sinfônico.

No encarte do CD – patrocinado pela Natura – Adnet explica que conheceu Philippe através de uma indicação de Paulo Jobim, filho de Tom, que havia trabalhado com o violonista carioca na execução de Jobim Sinfônico. “Rapidamente, ficamos (Mario e Philippe) ‘velhos’ amigos”, relata Adnet.

Na verdade, Mario Adnet já se mostrara um grande fã de Baden, que conheceu até mesmo antes de Moacir Santos (1924-2006), de quem viria ser bastante próximo e a produzir o citado Ouro Negro, mais Choros e Alegrias. “Através do seu violão, conheci a música de muita gente, incluindo Bach, Tom Jobim e Moacir Santos”, escreveu.

Na verdade, quem conhece o universo de Baden e Moacir (o segundo foi professor do primeiro), vai perceber que AfroSambaJazz é resultado do encontro da sonoridade desses dois gigantes da música brasileira. “Foi o maestro (Moacir) quem ensinou a Baden os modos gregos que muito inspiraram a criação dos Afrossambas”, acrescentou Mario Adnet.

Os méritos de AfroSambaJazz são inúmeros. Primeiro, a escolha do repertório é primorosa e abrangente. Estão lá “Canto de Ossanha”, “Canto de Xangô”, “Canto de Yemanjá” e “Lamento de Exu”, todos esses do disco Afro-Sambas (1966), mas também a indispensável “Berimbau”, composições pouco óbvias, como é o caso de “Sermão” e “Pai”, ambas de Baden com Paulo César Pinheiro, e até material inédito, como “Ritmo afro” (parceria de Baden com Philippe), “Canto de Yansan” (Baden e Idásio Tavares) e “Ladainha de Yansan” (feita por Baden e sua mulher, Silvia Powell, mãe de Phillipe e Marcel).

As músicas ganharam um tratamento digno acima da média. Philippe e Mario se revezaram nos arranjos (e também na execução das músicas, o primeiro ao piano e o segundo, ao violão). Adornaram as composições de Baden com uma orquestração de sopros com seção rítmica. A recriação deixou as composições pomposas e intensas, ressaltando as características afro-brasileiras das composições.

Para dar conta do recado, foi escalada a mesma – e excelente – banda que acompanhou o maestro Moacir Santos em Ouro Negro. Basicamente instrumental, só há vozes em dois momentos: Carlos Negreiros recita os lamentos de “Preto Velho”, enquanto a irmã de Mario, Maucha Adnet, e a cantora Mônica Salmaso, entoam, respectivamente, “Canto de Yansan” e “Ladainha de Yansan” na “Suíte Yansan”. Enfim, um disco grandioso pela própria natureza.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

No Dia Mundial do Rock

Hoje é o Dia Mundial do Rock.

Acordei ao som de "Back in Black" (AC/DC), tomei café ouvindo "(I can't get no) Satisfaction" (Rolling Stones - na foto ao lado) e fui trabalhar com um disco do Detroit Cobras (Tied & True, de 2007).

Agora, ouço Swett Oblivion, do Screaming Trees, para mim, a melhor banda que passou pelo grunge.

Enfim, escolhas pessoais e aleatórias, afinal, um tributo digno teria que ter, pelo menos, Beatles e Elvis Presley, artistas que eu adoro.

Mas tudo bem. Ainda são 9 e meia da manhã. O dia é longo.

Algo que tenho falado com frequência é que, tudo bem comemorar o Dia Mundial do Rock. Mas eu acho que deveria haver Dia Mundial do Blues, o Dia Mundial do Jazz, enfim, um dia para as pessoas, a mídia e todo o mundo ouvir blues, jazz, bossa-nova, etc.

Como ando sem tempo para escrever sobre rock, deixo vocês aqui com duas entrevistas que dei recentemente sobre o tema. Uma foi um papo muito legal no programa Diversitá, que vai ao ar todas as sextas-feiras, 18h, pela rádio Tabajara FM. Apresentado pelo jornalista Ricardo Oliveira, contou, ainda, com minha amigona do peito Olga Costa - uma das melhores enciclipédias de rock da cidade, autora do blog Fragmentos de Sonhos, Músicas e Filmes - e a produtora Carolina Morena, do Coletivo Mundo.

Clique aqui para ouvir o programa no site do Diversitá.

A outra foi uma pequena participação no Bom Dia Paraíba, que vai ai ar pela TV Cabo Branco/Globo, em todo estado. Foi uma tarde muito divertida, eu lá revirando meus CDs e DVDs. Na matéria, dá para ver um pouco do meu pequeno mundo de música e filmes.

Clique aqui para ver a matéria em vídeo, que foi reproduzida no Paraiba1.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Alice com TOC e o filho de Rambow

Como estou envolvido em alguns projetos - que assim que saírem do papel, anuncio aqui em primeira mão - ando sem tempo de atualizar o Meu Blog. Para não cair no esquecimento, ressucito o MB com a resenha de dois filmes que chegaram recentemente em DVD no mercado brasileiro, aqui, acompanhados pelos respectivos trailers.

JP-Crítica*

Uma Alice com TOC (****)

Lançado direto em DVD, A Menina do País das Maravilhas (Phoebe in Wonderland, Imagem Filmes), escrito e dirigido pelo estreante Daniel Barnz, é um desses filmes mágicos, que contam histórias encantadoras sobre crianças que, por serem diferentes, não se encaixam nos padrões (vide Pequena Miss Sunshine).

Phoebe (Elle Fanning) é uma garotinha que tem amigos imaginários, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e a Síndrome de Tourette, na qual não consegue evitar de falar coisas que lhe vem à cabeça. Em meio a rejeição dos colegas e a falta de tato dos pais para lidar com ela, aparece uma chance de estrelar a peça Alice no País das Maravilhas na escola, tarefa nada fácil para ela e os que a cercam.

A Menina do País das Maravilhas trata de temas como bullying, psicologia infantil, família, educação e ensino de uma maneira inteligente, sensível e sincera.



O melhor filme de Rambo (****)

Outro que saiu direto em DVD foi o ótimo O Filho de Rambow (Son of Rambow, Paramount). Produção inglesa do ano passado, narra a amizade entre dois garotos: um, Joshua (Neil Dudgeon), é o capeta em forma de guri. O outro, Will (Bill Milner), é o bom mocismo em pessoa. Acabam se aproximando pela ideia de fazer um filme baseado no já clássico Rambo – Programado Para Matar (1982) – embora Stallone tenha gostado do filme, a produtora não liberou os direitos do nome, por isso, o Rambow.

Mas apesar das cenas cômicas, O Filho de Rambow não é uma comédia. A aproximação entre os dois vai fazer com que o jeito de um, interfira no comportamento do outro e essa dinâmica transforma Rambow num dos filmes mais encantadores sobre amizade desde Conta Comigo.



* publicado no Jornal da Paraíba de 03 de julho de 2009.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Pai" do software livre estará em João Pessoa no domingo

Comunicado que recebi da prefeitura de João Pessoa, que apoia o 3º Encontro de Software Livre da Paraíba:

O Encontro de Software Livre da Paraíba é um evento organizado pelos grupos G/LUG-PB e PSL-PB que está acontecendo em João Pessoa desde a última quinta-feira (18), na Estação Cabo Branco, Ciência e Artes. Um dos palestrantes mais aguardado é o norte-americano Richard M. Stallman, criador do Software Livre, da Fundação Software Livre, do Projeto GNU e da famosa licença GPL. A palestra está agenda para este domingo (21), no auditório principal, a partir das 10 horas da manhã.

Em sua palestra, Richard M. Stallman ensinará um pouco mais sobre liberdade, software e sobre a força que esses dois conceitos idílicos têm tido sobre o mundo. Comentará ainda sobre as sociedades, suas economias, educação e especialmente algo que a muito anda perdido: humanidade.

O que é Ensol - O Encontro de Software Livre da Paraíba é um evento organizado pelos grupos G/LUG-PB e PSL-PB. O evento tem por objetivo promover e estimular o intercâmbio de experiências entre as diversas iniciativas, como grupos de Software Livre e entidades de mesma filosofia, através de soluções com Software Livre e de código aberto, difundindo seu caráter de alternativa tecnológica viável.

O evento parte da filosofia ampla de compartilhamento do conhecimento e das formas de poder geradas por esse acesso, o público alvo é a sociedade como um todo. Entretanto, o caráter tecnológico do Software Livre gera um público mais específico, ou seja, estudantes de Tecnologia da Informação, de nível fundamental, médio e superior, gerentes de TI de pequenas, médias e grandes empresas, acadêmicos e profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação, secretarias de informática e administração dos municípios, profissionais da área tecnológica, que desejam desenvolver e introduzir ferramentas de Software Livre em sua empresa.

Diploma com prazo vencido


Muita gente passou a me perguntar se eu não iria escrever, aqui no Meu Blog, sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o efetivo exercício da profissão. Afinal, eu sou um jornalista. E diplomado.

Não escrevi até então porque não queria escrever no calor (infernal) do momento e, evidentemente, de cabeça quente. Mas agora, depois de um dia, faço minhas reflexões:

1) É preciso esclarecer que o diploma dos jornalistas não perdeu a validade. Ele é um documento válido para muita coisa... para ter direito a cela especial, por exemplo. E para se inscrever em concurso no nível superior. Só não serve para tirar o registro de jornalista junto a Delegacia Regional do Trabalho (DRT). É dispensável. A partir do momento que é dispensável, torna-se dispensável que o candidato a jornalista dedique quatro anos, às vezes cinco, a estudar, conhecer e promover conhecimento, em ambiente propício, de como fatos, acontecimentos e reflexões sobre o Brasil e o mundo devem ser levados ao conhecimento das massas. É dispensável disciplinas como “Ética” ou “Técnicas de Produção Jornalística”. Afinal, qualquer um pode escrever, assim como pode levantar uma casa, ou abrir um ser-humano, ou se defender diante de um magistrado, em que pese seu linguajar pobre e atropelado. Qualquer um pode fazer isso, mas isso dá legitimidade para ser um engenheiro, médico ou advogado? Pelo raciocínio do STF, sim. Escrever em um blog como este é uma coisa. Escrever ou falar, dentro de um veículo que repercute de norte a sul do país, e até no exterior, para 100 mil, 500 mil, 1 milhão de pessoas é uma coisa completamente diferente. O próprio STF, formado por pessoas com uma brilhante carreira acadêmica e profissional (penso eu) é quem deveria defender o diploma para uma melhor prestação de serviço por parte da imprensa. E não o contrário.

2) Sim, fiquei muito chateado, decepcionado e contrariado pela decisão dos ministros STF. Como eu encarei isso? A despeito de muita gente querer minimizar o fato de se ter ou não, um diploma, não dá mérito profissional (o que eu já discordei no tópico acima) ou de consoladoras tapinhas nas costas para falar que carreiras como publicitário, radialista e designer também não exigem diplomas e que tudo isso não passa de chilique de jornalista, eu quero dizer que esta foi a coisa mais sem noção que a justiça já fez no Brasil democrático. Custo a acreditar que, com a consciência pública, política e democrática que temos hoje, uma corte de justiça decida pelo retrocesso de 40 anos de história e conquista. Sinceramente, nunca imaginei que o Brasil poderia dar este tiro no pé.

2) Que motivos levaram os ministros a pensar que qualquer um pode ser jornalista:

a) Uma completa ignorância sobre a arte de fazer um jornal diário? Afinal, de onde estou, acho muito fácil ler e decorar artigos, súmulas e acórdãos e julgar o que, supostamente, é justo. Afinal, quase todo dia, julgo que notícias devem ser veiculadas no jornal para o qual trabalho e, como crítico, vou ainda mais longe: julgo se você deve ver determinado filme, ou comprar um CD, elevando ou destruindo a carreira de um artista, gerando prejuízo ou lucros;

b) uma vingança contra a profissão jornalística – como foi ventilado por um colega. Afinal, é essa imprensa cada vez mais livre, cada vez mais preparada, cada vez mais inquisitora e cada vez mais destemida que não teme tecer críticas aos todo-poderosos ministros e expõe a fragilidade do sistema judiciário do país, a partir de declarações dos próprios ministros do STF que se consideram “sem-moral” quando brigam entre si (ou vocês já esqueceram o bate-boca vexatório entre o presidente Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa?)

c) por incrível que pareça, os ministros não faziam a mínima idéia do que estava sendo julgado;

d) os ministros só podem estar gagás.

3) Comparar o ofício de jornalista ao de cozinheiro não foi nem um pouco legal da parte do senhor ministro Gilmar Mendes. Se eu fosse dono ou editor de um grande veículo influente, e, ao mesmo tempo, sócio ou muito próximo a um restaurante de Brasília, eu pautaria dois estudantes de Ensino Médio, de escolas públicas, para entrevistarem – tanto para TV, ao vivo, quanto para impresso, sem gravador – os senhores ministros do Supremo, incluindo aí algumas cascas de banana e perguntas embaraçosas. Com a saída dos estudantes, chegariam alguns chefs para fazer o jantar da corte. Aí o ministro Gilmar Mendes, enquanto comia, poderia assistir e ler a reportagem sobre ele e seus colegas e provar, se é a mesma coisa, ou não.

A atitude dos ministros vai muito além da comparação entre jornalistas e cozinheiros. Agora, nestes tempos pós-diploma, jornalista é comparado a qualquer coisa. Por exemplo: o carinha da banca de camelôs que vende DVD pirata – um fora-da-lei por natureza, uma vez que, por desconhecimento, ou não, desrespeita a lei do país – pode dar um pulinho lá na DRT e tirar seu registro de jornalista. Pronto. É tão jornalista quanto eu, o Astier Basílio, o Boris Casoy e William Bonner e até pleitear a vaga de crítico de cinema de Renato Félix, Luis Carlos Merten e até o Rubens Ewald Filho.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Com uma pequena ajuda dos amigos

Momento with a little help from my friends (com uma pequena ajuda dos amigos).

Esta moça aqui trabalha comigo no Jornal da Paraíba. É meu braço direito e também o esquerdo. Está lutando contra uma bactéria malvada que quer tirar-lhe a vida e todos nós do Jornal da Paraíba estamos dando uma força para que ela vença esta luta.

Se você é do tipo que sabe que uma pequena ajuda pode contribuir para tornar o mundo melhor ou, até mesmo, salvar a vida de uma pessoa que você pode vir a encontrar um dia, na rua, sorrindo e feliz, abrace, contribua e passe para frente esta campanha.

Por ela, o meu obrigado.

André Cananéa

O rock como você nunca viu



Dedico este post a um dos jovens talentos do fotojornalismo paraibano. Anderson Silva foi um cara que eu conheci me pedindo acesso para fotografar um show do Oi Blues By Night, projeto que eu ajudava a produzir no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa.

De lá para cá, ficamos amigos e eu, fã das fotos do rapaz.

Aqui vai o texto que publiquei no Jornal da Paraíba desta quinta-feira, sobre a abertura da terceira exposição de Anderson.

Se você é de João Pessoa, ou está passando pela cidade por estes dias, e gosta de rock, não deixe de conferir as fotos iradas do cara.

Nas imagens acima: Falcão (O Rappa, RJ), Outona (PB) e Teco (Rancore, SP).

Clique aqui para conhecer o Flickr de Anderson Silva. Ou aqui para ir ao MySpace, ou aqui para acessar o fotolog.

‘Fragmentos Sonoros’ mostra o rock sob o olhar de Anderson Silva
Por: ANDRÉ CANANÉA

Se uma imagem vale mais do que mil palavras, quanto valerá em acordes? Uma boa maneira de descobrir isso é chegando lá no Espaço Mundo (Pça. Anthenor Navarro, s/n, Centro Histórico de João Pessoa) para conferir a mostra ‘Fragmentos Sonoros’, que reúne entre 25 e 30 fotografias do paraibano Anderson Silva. A mostra fica em cartaz até 18 de julho, sempre de quarta a sexta-feira, a partir das 18 horas.

As imagens foram capturadas ao longo de 2008 em shows e festivais em João Pessoa, Recife e Natal. “A ideia é passar ao público um pouco do clima dos shows, mostrando detalhes que se perdem no calor de um show. Coisa que só a fotografia consegue guardar”, comenta Anderson.

A mostra revela expressões de Falcão (O Rappa), Trinity (Venus Volts - SP), Jon Spencer (EUA), The Donnas (EUA), Rieg Wasa (PB), Diego Second (PB), Rancore (SP), além de algumas fotos promocionais, como da banda local Outona, e fotos de bastidores. “Todas as fotos têm algo de curioso ou de engraçado”, conta. “Vai desde chegar em cima da hora do show, assalto, até as fãs mais ousadas se ‘mostrarem’ para seus ídolos (risos)”.