quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Música Urbana

A Música Urbana é uma loja de discos usados no Centro de João Pessoa. Tornou-se, também, o ponto de encontro de músicos, colecionadores e meros ouvintes de música pop.

É a nossa Championship Vinyl.

Eu, além de habitué do lugar, tenho um carinho enorme pela loja e uma profunda admiração por Robério Rodrigues, o nosso "Rob".

A admiração vem pela coragem de Robério de ter largado um emprego estável para se aventurar no comércio de discos, enfrentar a derrocada da indústria fonográfica e resistir à crise mundial e sustentar a pequena loja do centro da cidade já há 10 anos.

Ontem, foi lançado no Youtube, um documentário sobre os 10 anos da loja. Assinado por Jesuino Oliveira, traz depoimentos dos frequentadores da Música Urbana - eu, inclusive - e números com bandas que passaram por lá.

O documentário tem duas partes e você pode vê-los logo abaixo, depois de um texto que publiquei em 18 de maio de 2006 para o Jornal da Paraíba, que acabei de resgatar.

A nossa Championship Vinyl
André Cananéa

A Música Urbana é a Championship Vinyl de João Pessoa. Você leu/viu Alta Fidelidade, não?! É... o livro de Nick Hornby (que ganhou uma adaptação para o cinema em 2000) sobre um cara que tem uma loja de discos e cinco foras homéricos no currículo.

Bem, não sei quantos foras o nosso Robério Rodrigues levou na vida, mas ele é o nosso Rob (vivido na tela por John Cusack).
Viu só, até os nomes coincidem!

Ok. Você nunca ouviu falar no “Alta Fidelidade”. Então lá vai uma sinopse: Rob é um sujeito que tem uma loja de discos no subúrbio e quase meia-dúzia de relacionamentos mal-sucedidos. Adora fazer listas com as “cinco mais” qualquer coisa (músicas, livros, filmes e, claro, foras) e passa seus dias na companhia de dois funcionários, o tímido e sensível Dick e o tresloucado Barry.

O livro pode ser encontrado em qualquer livraria, e o DVD, dirigido por Stephen Frears (diretor de “Ligações Perigosas”), tem em praticamente todas as locadoras e ainda nas promoções dos grandes magazines.

Definitivamente, Robério é o nosso Rob. É fã dos Smiths, R.E.M. e Radiohead. De segunda a sábado, sai de casa, pega um ônibus e abre a loja, que fica próxima ao antigo cinema Municipal, no Centro de JP.

À tarde, chega Flaviano André (que está mais para Dick do que para Barry). Um fã de Belle & Sebastian (tal qual o personagem de Hornby) que tem uma banda de rock. Ao longo do dia, recebem toda sorte de figuras: gente para comprar, para saber das novidades do mundo da música pop ou apenas para passar o tempo.

Eles estão sempre lá. Camisetas do Slipknot, do Sonic Youth, do Coldplay. Uns entram com skate. Outros com CDs do Metallica, querendo trocar pelo novo do System of a Down. Outros chegam procurando discos do Mudhoney que nem sequer saíram no Brasil. Outros querem alguma coisa do Cramps, do Elvis, dos Beatles.

O mundo moderno, infelizmente, está acabando com lugares como a Música Urbana. Lá é um ponto de encontro de fãs de rock, colecionadores de discos, jornalistas, músicos... todo mundo aparece por lá – principalmente nas manhãs de sábado.

Gente que namora os vinis empoeirados da loja. Gente que faz plantão à espera que alguém despeje por lá uma raridade pouco conhecida. Gente que sabe o valor do encarte de um CD.

A geração “iPod” não está muito preocupada com isso. Nem em sair de casa para conversar sobre a influência do Led Zepellin sobre o White Stripes. Ou que bandas legais havia em Seattle além do Nirvana e do Pearl Jam. E se o fazem, é via MSN, ora bolas.

É uma galera que não reconhece o valor da arte de uma capa de disco. Às vezes, não sabe nem o que é um “encarte”. Não compartilha da magia de manusear um disco. De abrir a caixinha de acrílico e retirar o pequeno livreto, onde estão as letras das músicas e algumas fotos. Às vezes, milhares delas.

É uma galera que só conhece nomes de arquivo com extensão .mp3 e, no máximo, enxerga a capinha digitalizada, em formato diminuto, num gerenciador chamado “iTunes”.

Essa galera passa longe da Música Urbana. Quando muito, frequentam as grandes redes (que ainda não chegaram aqui), com seus milhares de discos e equipamentos que permitem que você ouça trechos do CD apenas com a leitura do código de barras. E com seus coffees shops frios e impessoais. Nada do aconchegante astral da Música Urbana, que mesmo em escaldantes tardes de verão – refrigeradas por cansados ventiladores nas paredes – ainda resguarda a comunhão de pessoas que fazem da loja do Robério, a Igreja Hendrixiana do Sétimo Acorde (coisas do Láuriston). Amém!





Um comentário:

Renata Ferreira disse...

É um saudosista mesmo! Lembra do professor José Carlos falando o quanto somos todos velhos? kkkkkkk

Mas, sério, tenho que admitir que compartilho da mesma saudade dos "bons tempos" quando vejo essa galerinha pouco se importando com o valor do verdadeiro trabalho criativo. Não sou uma fã do rock como você, mas ainda gosto de passar meu tempo folheando encartes de CDs originais das minhas bandas favoritas.

beijos
Renata Ferreira