segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Guerra em cores (vivas!)

Domingo, publiquei uma página do Vida & Arte do Jornal da Paraíba sobre Waltz With Bashir. Não sou afccionado por animações, nem sou um grande especialista. Mas gosto de poucas e boas - entre eles O Estranho Mundo de Jack, Ratatouille, Wall-E, A Festa dos Monstros Malucos, A Viagem de Cihiro e Metropolis de Osamu Tezuka, para citar alguns.

Tenho na coleção muita coisa da Disney, alguns animes e quase tudo da Pixar. Realmente, esses desenhos exercem um facínio especial e eu diria, até, diferente dos filmes de gente de carne e osso.


Waltz With Bashir, para mim, vale mais como um filme documentário do que como uma animação. Muita embora boa parte do impacto deste filme seja mesmo as cores vivas. Mas, tanto num terreno, como noutro, é um filme que gostei bastante e se levar o Oscar, leva bem.

Abaixo, posto o que saiu no Jornal da Paraíba de domingo (8), seguido do trailer do filme, mais um texto adicional, que publiquei como box da matéria, com 10 sugestões de animações.


Guerra em Cores
André Cananéa
(publicado originalmente no Jornal da Paraíba de 08/02/2009)

Até que ponto o termo “desenho animado” soa como algo infantil para você?! Se até uma ou duas décadas atrás, só Mickeys, Pato Donalds e Pinóquios chegavam à superfície e se permitiam passar na tela grande ou dentro dos lares das famílias ocidentais – sim, porquê do outro lado do mundo, o modo com os desenhos animados eram vistos já era bem diferente – hoje, os tempos, definitivamente, são outros.

Na era da Pixar – que produz animações tão inteligentes e divertidas que seria por deveras reducionista chamá-los apenas de infantis – e das animações computadorizadas (as chamadas CGIs, usada em larga escala em filmes com gente de carne e osso), os desenhos animados deixaram de ser apenas “animados” para se tornarem longas-metragens de animação, às vezes, tão ou mais importantes que filmes “de verdade”.

Um filme de animação que acaba de ser fincado como um dos pontos importantes da história da animação se chama Waltz with Bashir, numa tradução literal, “Valsa com Bashir”. O longa do diretor Ari Folman vem conquistando prêmios, respeito e admiração por onde passa e desde já é cotado para levar um Oscar no próximo dia 22, mas não o de Animação e, sim, o de Melhor Filme Estrangeiro.

Até agora, Waltz with Bashir já arrebatou os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro e no Britsh Independent Film Awards. Levou Melhor Animação pela Associação de Críticos de Los Angeles e Palma de Ouro em Cannes. Neste domingo, concorre a Melhor Filme Estrangeiro pelo Bafta, o Oscar inglês. Se levar no Oscar, ficará em pé de igualdade com filmes como A Vida é Bela, Indochina, Cinema Paradiso, O Discreto Charme da Burguesia e A Noite Americana, entre tantos outros.

Waltz with Bashir é uma produção israelense, em associação com a Alemanha, França e Estados Unidos. Trata-se de um documentário autobiográfico onde uma parte importante – e triste – da história do Líbano é recriada. O ponto de partida é o próprio diretor e roteirista, Ari Folman. Antes de se dedicar à sétima arte, Folman havia servido ao exercito. Tinha 19 anos. E como soldado, lutou contra na Guerra do Líbano, em 1982, um massacre que não poupou nem mulheres, nem crianças.

A guerra começou quando Bashir Gemayel, um dos principais comandantes das Falanges Libanesas, milicia cristã de extrema direita apoiada por Israel, fora assasinado, em 14 de setembro de 1982, supostamente por guerrilheiros palestinos. O “troco” resultou em uma das piores matanças da história.

Acontece que esse episódio simplesmente sumiu da memória dele. O filme registra a busca de Folman por suas lembranças perdidas. Ele recorre a amigos, ex-combatentes e até psicólogos para tentar lembrar e reconstituir, em aproximadamente 80 minutos, a brutalidade da guerra. O filme mistura depoimentos reais com reconstituições e uma “cola” de ficção.

O diretor israelense usou a rotoscopia, mesma técnica utilizada em filmes como Waking Life e O Homem Duplo, títulos bem conhecidos nas locadoras. Sobre a filmagem de gente de verdade, é aplicada uma camada colorida, vibrante e de traços simples. O resultado, especialmente em Waltz..., é deslumbrante. A valsa de cores não ameniza a brutalidade dos crimes, dos delírios e dos pesadelos de Folman. Há cenas de extrema violência, nudez e brutalidade. Um universo nu e cru visto pelas cores de um sobrevivente.

Apesar de circular livremente pela internet em boa cópia e até legendas em português, Waltz with Bashir ainda não estreou no Brasil – nem sequer tem titulo oficial. A previsão é que chegue aos cinemas em 10 de abril.



10 animações para adultos que você precisa conhecer

1 - Persepolis (Idem, França, EUA, 2007) - Outro exemplo de animação autobiográfica sobre os conflitos no Oriente Médio. Este longa indicado ao Oscar 2008 de Melhor Animação é baseado nos quadrinhos homônimos de Marjane Satrapi. Ela conta suas lembranças de quando viveu no Irã e na Austria. Saiu em DVD no Brasil.

2 - As Bicicletas de Belleville (Les Triplettes de Belleville, França, Bélgica, Canadá e Reino Unido, 2003) - Esta simpática animação francesa ganhou duas indicações ao Oscar 2004. É uma dos melhores filmes de animação europeu disponíveis no Brasil. Conta a historia de uma vovozinha que sai em busca do neto, um ciclista sequestrado enquanto fazia o Tour de France.

3 - Homem Duplo (A Scanner Darkly, EUA, 2006) - O perturbador conto de Philip K. Dick ganhou esta versão em rotocópia estrelada por keanu Reeves (foto), um espião que investiga o envolvimento dos amigos com uma tal Substância D. Disponível em DVD no Brasil e bem fácil de achar.

4 - Waking Life (idem, EUA, 2001) - Também em rotocópia, filme estrelado por astros como Julie Delpy e Ethan Hawke narra encontros de um jovem com várias pessoas, regados a longas conversas sobre os vários estados da consciência humana e discussões filosóficas e religiosas. É bastante cultuado, tem edição caprichada importada e simples no Brasil.

5 - Fritz, The Cat (idem, EUA, 1972) - Ícone da contra-cultura inspirado na obra do cultuado Robert Crumb, Fritz já foi considerado o primeiro longa de animação pornô da história. Entre gatos, porcos, corvos e outros bichos, há muito papo sobre sexo e drogas e muita viagem. Saiu no Brasil em DVD, mas hoje está fora de catálogo.

6 - Heavy-Metal - Universo em Fantasia (Heavy-metal, Canadá, 1981) - Baseado na fantástica (num sentido bem amplo) revista em quadrinhos, este clássico pop da animação mistura fantasia, ficção científica, nudismo, e claro, muito rock pesado, sob o traço de alguns dos mais populares desenhistas da época. Dá para achar em DVD.

7 - Os Segredos e Aventuras de Tom Thumb (The Secrets Adventures of Tom Thumb, Reino Unido, 1993) - Obscura e esquisita animação que mistura stop-motion com pixilation (técnica onde as pessoas são fotografadas quadro-a-quadro), é uma aventura surreal (no sentido Bunuel de ser) para fãs de Eraserhead. Importado.

8 - Aeon Flux (Idem, EUA, China, 1991) - Produzida pela MTV americana, com o diretor de animação sul-coreano Peter Chung, é uma das mais intrigantes séries de ficção científica, cuja reputação foi imaculada pela insossa versão para o cinema estrelado pela bela Charlize Theron. No Brasil, uma caixa compila toda a série.

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