segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Gil para ministro da Cultura (dos Estados Unidos, claro!)

Uma das entrevistas que eu mais gostei de fazer foi com Gilberto Gil, na semana retrasada. Acontece que dois assuntos que abordamos na entrevista acabaram ganhando relevancia na semana que passou, de modo que a entrevista, publicada domingo passado no Jornal da Paraíba, acabou saindo quente, pegando fogo.

Os fatos fora: a reabertura da fábrica de discos PolySom, no Rio de Janeiro, e a petição de Quincy Jones para que Obama crie a Secretaria Nacional das Artes, espécie de Ministério da Cultura dos Estados Unidos. E advinhe só de quem foi a idéia dessa tal secretária...

Gil faz show em João Pessoa, quero dizer, Cabedelo (Jacaré Pop, na Praia do Jacaré), nesta quinta-feira (5).

Aqui, vai a íntega do materia publicado no jornal. Abaixo dela, a entrevista do Gil.


Gil traz de volta os grandes sucessos

Por: ANDRÉ CANANÉAEm 2001, Gilberto Gil subiu ao palco do Maior São João do Mundo, em Campina Grande, para fazer um show. Foi a última vez que ele pisou em um palco na Paraíba. Ou quase, já que o cantor e compositor baiano voltaria em dezembro daquele mesmo ano para uma pequena participação no show que a dupla Sandy e Júnior fez nas areias de Tambaú, em João Pessoa. Mas na Capital, Gil não se apresenta desde 1987. E é para matar as saudades do público que ele sobe ao palco do Jacaré Pop (que, a bem da verdade, é em Cabedelo, região metropolitana de João Pessoa) na próxima quinta-feira, a partir das 22h, numa grande festa pelos 16 anos da rádio Cabo Branco FM.

Houve um tempo em que Gil vinha regularmente a João Pessoa e Campina Grande. Chegava a passar temporadas nessas cidades, com quatro, cinco shows numa única semana. “João Pessoa marcou muito minha carreira desde o inicio, no Teatro Santa Roza...” (...) João Pessoa era uma cidade que eu ia praticamente todo ano”, recorda o cantor e ex-ministro da Cultura, por telefone, em entrevista exclusiva (leia o bate-papo na íntegra, na página 3).

Gil passa por João Pessoa numa curta excursão pelo Nordeste. Daqui, vai à Recife (7) e Aracaju (13). No show, passa em revista os grandes sucessos da carreira, incluindo músicas do novo Banda Larga Cordel. “É um show de verão, pra cima”, comenta. Fazem parte do repertório “Andar com fé”, “Realce” e “Toda menina”, entre outras. “Eu escolho repertório em função de coisas que marcaram presença junto ao público”, comenta. “Tem coisas de várias épocas, coisas recentes que começam a criar expectativa junto ao publico. É uma coisa de retrospectiva, com sucessos e músicas que chegaram ao ouvido e ao coração do publico”.

Formada por integrantes do Lírios do Gueto e Clã Brasil, a banda Só Coisa Fina (veja matéria na página 5) vai abrir a noite com repertório sofisticado de MPB.

  • 91.5 leva fãs ao camarim de Gil
Já pensou em ganhar ingresso para o show e ainda dar “aquele abraço” no Gil? Essa é a proposta da Cabo Branco FM, na mais nova promoção da rádio. A Cabo Branco vai levar três ouvintes ao camarim de Gil na noite do show, quinta-feira.

Para participar da promoção ‘Aquele Abraço’, basta enviar um e-mail para gil@cabobranco.fm.br ou clicar no banner da promoção no portal Paraíba 1 (www.paraiba1.com.br) e responder por que você merece dar um abraço no grande Tropicalista baiano. As três melhores respostas ganham ingressos e abraços de Gilberto Gil.

“A Cabo Branco FM não poderia comemorar de maneira mais feliz seus 16 anos de existência. Como uma rádio que sempre apostou em uma programação de qualidade, Gil tem lugar de destaque e poder tê-lo nessa comemoração é um privilegio”, diz a gerente de programação da radio, Edilane Araújo.

Com uma programação refinada e repertório apurado, a Cabo Branco também escolhe com esmero as promoções que abraça. Antes de Gil, a rádio havia promovido, nesse estilo, um encontro entre os ouvintes e a cantora Marisa Monte, em janeiro de 2007.


Gil inspirou criação do ‘MinC’ dos EUA

Por: ANDRÉ CANANÉA

O renomado produtor e arranjador norte-americano Quincy Jones tem feito campanha junto ao presidente Barack Obama pela criação de um órgão federal voltado à Cultura, uma espécie de Ministério da Cultura (MinC) de lá. Em toda a história americana, nunca ouve um órgão que cuidasse de políticas públicas para a cultura, como acontece no Brasil e em outros países.

Nesta entrevista concedida ao JORNAL DA PARAÍBA, o cantor e compositor e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, revela que há um ano deu a ideia a Quincy Jones. Gil também fala sobre tecnologia e a volta dos antigos LPs.

- Você não se apresenta por aqui desde 1987. Algo especial para o show da próxima quinta-feira?
- Ainda não sei... vontade de fazer um carinho a gente sempre tem. João Pessoa é uma cidade muito importante, que marcou muito minha carreira, marcou momentos de desenvolvimento do meu trabalho desde o inicio, no Teatro Santa Roza... Eu tenho varias lembranças daí, de quando eu conheci Sidney Miller (compositor carioca, morto em 1980). João Pessoa era uma cidade que eu ia praticamente todo ano.

- Você é um artista antenado com as novas tecnologias. Salvador, sua cidade, tem se destacado como um polo de estudos sobre as novas tecnologias. A cidade exerce alguma influência sobre você, nesse aspecto?
- Na época do ministério (MinC), eu até fui procurado por pessoas que tinham interesse em transformar Salvador nesse polo de novas tecnologias. Mas eu não diria que, nesse sentido, Salvador impulsiona em mim esse gosto pela tecnologia. Na verdade, eu não sei de onde vem...

- Assim como Caetano, você também vai mergulhar na blogosfera, escrever blog ou coisa parecida?
- Eu sou um usuário muito moderado do uso da internet. Sou mais um estimulador. Eu adoro o fato da internet ter um potencial extraordinário e gosto muito de estimular a aproximação do publico com a internet e é isso que eu venho fazendo. Eu sou um apologista da internet, dos seus usos e da exploração criativa dela. Talvez eu venha a fazer (blog) em um momento qualquer, explorar a blogosfera de modo mais intensivo. Meu site e todos os elementos utilizados no meu trabalho, da internet, do ciberespaço, têm uma interação. Artisticamente, e usando os elementos que cercam o meu trabalho, aí eu tenho uma presença razoável e uma produção intensa. Mas pessoalmente, não.

- Nessa mão e contra-mão da tecnologia, temos de volta os velhos LPs. Na época em que você era ministro, houve uma tentativa de reabrir uma fábrica de discos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro (a Poly Som, reaberta esta semana pela DeckDisc)...
- ... na época do ministério, houve uma tentativa de tombamento que garantisse a permanência da fábrica e estimulasse interesses, investimentos para que a fábrica se mantivesse, se expandisse, se desenvolvesse e atendesse a nichos, tanto dentro quanto fora do Brasil – e eles até já tinham começado a tratar com mercados na Argentina e até na Holanda – e eu deixei isso encaminhado no ministério, mas não sei em que pé anda.

Você é um entusiasta dos LPs?
Não, não. Eu tenho muitos LPs, pelo menos uns dois mil, mas que vêm do tempo que a gente ouvia os LPs e aí ficou como coleção. Estão guardados, mas eu não escuto os discos. Outro dia eu até ganhei uma vitrolinha, mas eu mal tenho tempo de ouvir um CD ou outro, imagina um LP.

- Agora em fevereiro, álbuns de Chico Science e João Bosco voltam às prateleiras, remasterizados, mas só em LP. Nessa onda dos relançamentos, você não pensa em lançar seus discos novamente em vinil?
- Para eu chegar e tomar uma posição dessas, seria preciso que eu tivesse um cotidiano mais próximo do vinil. É o que a gente estava conversando, eu não sou um cultivador desse gosto pelo vinil. Para que eu decida fazer relançamentos em vinil, seria preciso haver uma demanda para isso e eu não acredito que haja essa demanda hoje. Pode até haver no futuro e, no momento em que houver, eu posso até pensar nisso. (pequena pausa) A gente está indo na outra direção, na direção das novas tecnologias. Migramos do vinil para o CD, agora do CD para o MP3, para as lojas eletrônicas, para a música a granel. Pelo menos do ponto de vista de atenção, eu estou mais atento a este campo aqui do que ao retrô.

- Os jornais americanos dão como certa a criação, por parte de Barack Obama, de uma espécie de “ministério da cultura” nos Estados Unidos. A idéia teria partido de Quincy Jones. Como nós sabemos que você é bem relacionado ao renomado produtor americano, teria havido qualquer tipo de incentivo da sua parte para a criação desse “MinC” americano?
- Eu cheguei a conversar com Quincy Jones, quando ele esteve aqui em fevereiro (do ano passado). Não só como ele, mas com outras pessoas também, como o (ministro) Mangabeira Unger (não por acaso, ex-professor de Obama em Harvard) que tinha vontade de sugerir ao Obama a criação de uma instituição cultural no governo, algo equivalente ao Ministério de Cultura, que nunca houve no governo americano. A gestão das questões culturais, do ponto de vista de políticas publicas, sempre ficou a cargo das entidades privadas, das grandes fundações. Nunca houve, nos Estados Unidos, como lá na Europa e em muitos países, a tradição do ministério ou da secretaria nacional de Cultura.

- Então o Quincy Jones foi o porta-voz dessa idéia?
- Tomara que sim (risos). Tomara que, além dele ter me escutado, ele tenha se convencido dessa necessidade e tenha sedimentado isso com Obama.

- O que você elege como mais importante de sua passagem pelo Ministério da Cultura?
- Como conceito, uma mobilização mais ampla dos setores populares para compartilharem a vida cultural brasileira. Não só de fruição, mas também mais cinema, mais teatro, mais espaços populares, casas de cultura, todas essas coisas, mas também no sentido de produção, com novas possibilidades, setores populares produzindo e distribuindo sua cultura. Também tivermos o trabalho clássico junto aos patrimônios históricos, museus e o esforço de revitalização da Funart. Mas eu diria que o mais importante foi essa coisa de tentar criar uma mentalidade em relação aos setores populares.

Um comentário:

Anônimo disse...

O estudioso das novas tecnologias não pára de pesquisar nem quando está entrevistando, hein? Risos...