terça-feira, 1 de julho de 2008

De como uma gripe levou a uma reflexão sobre novas tecnologias

Estou em falta com meus 4 leitores, não estou?!

É que esses dias estão bem corridos. 1) Eu tive que ir ao médico. 2) Eu e Lílian nos demos até o dia 10 para comprar um apê. Caso contrário, a gente aluga e investe na planta. Assim, ta chovendo apartamentos para ver. 3) Eu tô fissurado no Playstation!

Alguns textos abaixo, vocês viram que eu gripei. Isso deu umas complicações no ouvido e eu acabei marcando uma consulta com minha amiga, a dra. Renata Soares, especialista em nariz, ouvido e garganta.

O consultório onde ela atende fica numa espécie de “shopping” de consultórios. O lugar é grande, cheio de corredores e apinhado de gente. Parece um labirinto, uma coisa tipo ‘Quake’, saca? Dividido em alas, cada ala tem uma recepção. Depois de dobra aqui, dobra acolá, cheguei, enfim, a recepção onde deveria esperar ser chamado. Tava lotada de gente a espera de uma consulta com os diversos médicos que atendiam por lá.

Na recepção não havia televisão, nem radio, nem música ambiente, de modo que estávamos todos em silencio, ou olhando para o teto, ou folheando uma revista. Não havia muita coisa além disso para fazer. Daí entra um senhor, todo de branco, que pela pinta estava mais para médico que pai-de-santo. E nem era sexta-feira, portanto, era médico mesmo. Assim que se senta, o celular do cavalheiro toca e ele se põe a bater papo. Fala que perdeu um cartão, que pediu para a moça que trabalha na casa dele procurar numa camisa tal, que só havia ligado naquele dia para o banco, que a última vez que o usou foi o Carrefour e por aí foi.

Bem... eu tive vontade de perguntar o nome do cavalheiro. Porque a essa altura, eu já sabia que ele fazia compras do Carrefour, tinha um cartão do Banco do Brasil e empregava alguém do sexo feminino em sua casa para realizar atividades domésticas. Já sabia mais coisas sobre ele do que sobre a médica que iria me atender. E olhe que ela é minha amiga.

Essa história bateu exatamente com o que eu havia acabado de ler no dia anterior, na matéria de capa da revista Época desta semana. O texto é sobre o novo iPhone e na revolução que ele promete causar.

Não sei se o que você irá ler agora é alguma novidade, mas sabe esse eu PC que está aí? Pode jogar fora. Segundo os especialistas, ele está completamente ultrapassado. É uma lata velha e enferrujada que só serve de entulho.

O futuro (ou seria o presente?!) é a tecnologia móvel. Celular é um nome antiquado para esse tipo um dispositivo cujo modelo se chama iPhone, da Apple. Eu vivo dizendo isso. Afinal, o danado faz tudo, até ligação! Entra na internet, tem GPS, toca música, filme e permite até que você leia esse blog!

Nesse dia, no consultório, eu aproveitei para ler um material disponibilizado pelo professor José Carlos Ribeiro, um baiano arrebato, doutor em Cibercultura, que ensinou o módulo ‘Novas Tecnologias’ na pós que eu estou fazendo. Lá tem um texto chamado ‘Convergência de Mídias Potencializada Pela Mobilidade e Um Novo Processo de Pensamento’, do gaúcho Eduardo Campos Pellanda, apresentado no XXVI Congresso Anual em Ciência da Comunicação, realizado em 2003 na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Leia o texto aqui

Ele discute a questão de o quanto o ser humano está conectado nos dias de hoje. Veja só que curioso: quando a internet começou a ficar popular, ali em meados dos anos 1990, os especialistas (e sobretudo psicólogos) começaram a avaliar os danos que essas novas tecnologias poderiam trazer para o homem, sobretudo no que diz respeito a sociabilidade dos indivíduos.

Afinal, internet, como se diz no popular, é uma coisa que vicia. As pessoas lêem, estudam, trocam correspondência, paqueram, assistem filmes, ouvem música, jogam, fazem compra, transação bancária, investem na Bolsa de Valores e vão até a missa, se confessam e pagam penitência (verdade!), tudo pela web. A projeção de que iríamos todos viver, cada um para o seu monitor, enfurnados em nosso quartos ou escritórios, era a visão do inferno apocalíptico ciberpunk de 12 anos atrás.

O que os especialistas, tavez, não previram é que as pessoas estariam conectadas (on line), sim, mas juntas umas das outras.

Quer ver: quando você sai de casa para ir trabalhar, com seu celular na bolsa, você está conectada. Você está on line! Até se você for a uma praia deserta, sem energia elétrica, mas dentro do alcance da sua operadora de celular, você está on line. Você está apta a ser acessada a partir de um outro celular, ou de um telefone fixo, ou de um skype, ou até mesmo de uma mensagem de texto.

O iPhone, como é mais do que um aparelho para fazer e receber ligações, e o grande atrativo dele são as possibilidades de acesso a internet (ele tanto usa tecnologia 3G quanto wireless), essa vida on line é potencializada, de forma que você vai estar mais conectado ainda, em qualquer lugar. Até no meio da final Sport x Corinthias.

Assim, mesmo que você esteja sozinho, num quarto motel, com sua garota, e seu celular esteja ligado, você estará on line para o mundo virtual. Mesmo que você saia para jantar com três amigas, o celular ali ao lado vai lhe permitir ir ao banco, baixar o disco novo do Coldplay, corrigir a tarefa de casa da sua sobrinha e ainda olhar as fotos da lua-de-mel da sua prima sem sair da mesa e sem perder a conversa com as amigas.

Esse papo de ficar trancado em casa na internet já era. Hoje, você fica “trancado” na internet, mesmo a céu aberto!

O que é curioso nessa história, para voltar ao meu amigo de branco que perdeu o cartão do Banco do Brasil e faz compras no Carrefour, é que, como apontam vários especialistas, entre eles o maioral Pierre Lévy, a noção de privado e público se perde no mundo real. A coisa íntima da ligação telefônica, o aparelho telefônico que nos anos 1960, 1970 e até 1980 ficava no canto da sala, ou no escritório, fazendo com que o indíviduo mantivesse a privacidade de suas conversas, foi para o beleléu. As pessoas perderam a noção de onde estão, e com quem estão, e falando o que. Afinal, preste atenção: não existe apenas o meu amigo de branco que age assim.

Bem, essas são apenas algumas reflexões provocadas por uma ida ao médico.

Agora agüenta aí que eu vou pingar gotinhas no meu ouvido. E terminar meu artigo sobre ‘Novas Tecnologias’ para a especialização.

3 comentários:

Adriana Rodrigues disse...

Olá André, tudo bem?
Vi que está mergulhado na cibercultura.Realmente, é uma área fascinante.

Olha! aqui está uma entrevista feita com Adriana Amaral, uma outra pesquisadora sobre cibercultura, ciberpunk,entre outros.

Vale a pena uma checada.

http://palavrasecoisas.blogspot.com/

Boa sorte no artigo!

abraços,

Adriana Alves

Adriana Rodrigues disse...

Olá André, tudo bem?
Vi que está pesquisando sobre cibercultura. De fato, é uma área fascinante.

Pensando nisso, segue então uma entrevista com Adriana Amaral, outra pesquisadora sobre cibercultura, ciberpunk, ficção científica, se vc ainda não viu...Acho que vai gostar.

http://palavrasecoisas.blogspot.com/


Abraços,

adriana a. rodrigues

Ivo Medeiros disse...

Espero que tenha me colocado entre os 4 leitores... pq se não terá que aumentar pra 5...
:P
Agora realmente hj celulares são tudo inclusive um aparelho que recebe e faz ligações, e o iphone esse sim faz tudo mesmo...
Abraço