sexta-feira, 1 de maio de 2009

E o futuro dos DVDs?

Aos 34 anos, estou me tornando um saudosista inveterado.

Se você acompanha Meu Blog já há algum tempo, sabe que eu coleciono DVDs, esta coisa tão obsoleta como uma máquina de escrever.

Exagero? Nem tanto.

Ontem (ou hoje de madrugada) estava vendo esta matéria aqui, exibida pelo Jornal da Globo, sobre novas mídias para home cinema.



Sou da geração 80 que cresceu junto com o mercado de vídeo doméstico. Vi as primeiras videolocadoras de João Pessoa aparecerem e, por ter um pai cinéfilo, acompanhei de perto a popularização dos VHS, tanto a pirataria que tomou conta das locadoras - sim, houve uma época em que muitas locadoras disponibilizavam, para o alugue, cópias piratas em fita -, quanto o movimento da UBV para moralizar a situação.

Era uma época que pirata não tinha vez.

Passei a infância e adolescência esperando a sexta-feira chegar para ir à locadora perto lá de casa, alugar três filmes e devolver na segunda-feira. Era uma coisa religiosa.

Passava horas tirando as caixinhas da estante, lendo sinopse, sacando as fotos e comentando sobre filmes com outros clientes.

Quando o DVD chegou, chegou também a possibilidade de colecionar filmes. De ter uma DVDteca com filmes bacanas, com arte, documentário e romance, um vasto conhecimento humano que seria a versão audiovisual digital da biblioteca do meu avô.

Hoje tenho lá meus 800 DVDs, todos originaizinhos, estalando de novos, muitos em edições caprichadas, alguns importados.

Eles fazem parte da minha rotina de lazer e trabalho.

Transformei um dos quartos do apartamento onde moro para fazer um modesto cineminha – o qual Astier já batizou como “Cine Cananéa”. É uma TV de LCD de 40 polegadas (ideal para o tamanho do lugar), com um HT Sony, mais um player, também Sony, conectado com a TV via HDMI. Nada muito sofisticado, mas que dá para ver um filme com um mínimo de qualidade.

Assim, vejo filmes direto, seguindo o ritual de entrar no “Cine Cananéa”, escolher um DVD, ligar o equipamento, fazer pipocas, sentar no sofá e assistir ao dito cujo.

As videolocadoras estão chegando a extinção. E os velhos DVDs também. Estes estão sendo substituídos pelos blu-rays, enquanto aquelas, pelas locadoras virtuais. Tanto o blue-ray, quanto os filmes virtuais, têm algo em comum: o vídeo em alta definição.

Estamos entrando na terceira geração de home-vídeo. De cabeça, divido essa história nestas três fases:


Década de 1980 – Vídeo-cassete. O luxo do home-theater era ter um VHS ligado a uma televisão de 14 polegadas. Com o tempo, a sofisticação chegou a TVs de 29 polegadas, com o mesmo VHS, porém agora com reprodutores em estéreo, permitindo que os aparelhos fossem ligados no reciever de som, que por sua vez funcionavam com apenas duas caixas (e em 2.0).


Entre 1995 – 2007 – O DVD trouxe uma melhor imagem e um som infinitamente superior. Agora, as TVs são maiores e já pega o início da tecnologia LCD/Plasma. E o som é distribuído na ambiência de cinema: cinco canais, fora um subwoofer, tornam os sons mais reais e nítidos. A industria fonográfica se deu bem aqui, com o sucesso dos DVDs de shows.


A partir de 2008 – A era da high-definition (HD). As TVs de LCD/Plasma passam das 50 polegadas, com uma qualidade de imagem nunca vista antes. O blue-ray começa a aparecer, prometendo uma qualidade de imagem ainda melhor que o DVD, assim como um som ainda mais nítido. Mas em tempos de internet, o blue-ray encontra na web um forte concorrente. Serviços como a Netflix, oferecem filmes em alta resolução, que pode ser baixado rapidinho em conexões ultra-rápidas (o que não é o caso de João Pessoa, onde a banda “larga” não chega a 3 megas), dispensando a mídia física e passando direto na TV. Uma espécie de payper-view dos novos tempos. Por outro lado, a loja virtual iTunes vende esses filmes em alta definição para você armazenar no seu HD e até mesmo na própria rede, dentro do conceito web 2.0. Ou seja, minha coleção que hoje é física, vai se tornar um diretório na internet, que eu vou acessar pela TV (sem a necessidade de um HD) e assistir na hora que quiser, quantas vezes quiser, porque ao contrário do serviço da Netflix, estes filmes aí já me pertencem.

Esta última observação deve dominar o mercado já a partir de 2012. É um chute. Tô botando aí três, ou talvez quatro anos, para a internet super rápida chegar por aqui, de uma maneira tão popular quanto o aparelho de DVD é hoje.

Acredito que a pirataria, tal qual conhecemos hoje, do consumo ilegal de cópias (de péssima qualidade) nas bancas de camelô (em João Pessoa, o lugar mais famoso é o Terceirão), com gente pagando R$ 2 por um DVD gravável dentro de um saquinho com um encarte que foi reproduzido do original, ou criado por alguém, não irá durar mais que quatro anos.

Com o acesso da população aos filmes em alta definição pela internet, como disse mais acima, você acha mesmo que o fulaninho da oficina vai sair de casa, pegar ônibus, para comprar o piratão no centro da cidade? Claro que não! Ele vai acessar algum site pirata, que vai disponibilizar a cópia de graça para ele baixar e ver com a família, sem nem sair da sala e, mais ainda, sem pagar nada.

É ilegal, é crime, mas existe. E já existe hoje, nos milhares de sites que oferecem filmes de graça, como se fosse a política da boa vizinhança. É a era do compartilhamento, do “empresta teu filme virtual”, só que numa escala planetária que está quebrando industria e transformando os conceitos de consumo.

Eu sou um saudosista. Tenho refletido mundo sobre o que fazer com meus disquinhos da estante. Jogar fora? Acho que não. Joguei meus vinis, quando comprei meu primeiro CD player (em 1989) e hoje me arrependo.

Eis minhas considerações sobre o futuro do DVD:

1. Já saiu muita coisa em DVD que, se sair no formado de alta definição, vai demorar bastante. E talvez não saia nunca, como muitos VHS que continuam inéditos.

2. Por outro lado, eu acredito que a distribuição de filmes pela internet fará com que o acervo seja muito maior do que é hoje, sobretudo no Brasil. Veja só: há uma infinidade de títulos que saíram nos Estados Unidos, mas não aqui. Vou citar alguns, só para você ter uma idéia: o primeiro Karatê Kid, o primeiro Um Drink no Inferno, Hamlet de Kenneth Branagh, entre outros. Hoje, muitos filmes já saem no mercado americano com legenda de tudo que é língua. A tendência é que o mercado americano já lance seus filmes com opção de legenda e até dublagem nos principais idiomas, inclusive em português (que com a nova reforma ortográfica, vai acabar com essa frescura de "português do Brasil" e "português de Portugal".


3. Existe uma coisa no DVD - que o blu-ray PODE herdar - mas que eu ainda não sei como vai funcionar pelo esquema web: são as edições de colecionador. Edições duplas, triplas e por aí vai, que reúnem uma gama de informações (documentários, entrevistas, fotos, etc.), sem falar em livros e mimos que acompanham os discos (como esta edição importada de 300). Esta ainda é a grande cartada dos estúdios para faturar em cima de seus filmes. Se você procurar direitinho, vai ver que certos filmes já foram relançados “n” vezes por aqui - De cabeça, posso citar Alien – O 8º Passageiro, que teve, pelo menos, cinco edições comercializadas no Brasil.

4. E, por último, os clássicos. A alta definição tem se mostrado ótima para filmes feitos em alta definição. Como Batman – O Cavaleiro das Trevas, por exemplo. Mas pegue O Poderoso Chefão, que passou por uma restauração digital recentemente. Feito em película, a tendência de filmes do começo dos anos 1980 para trás é ficar pixelada nas TVs de alta definição. Por isso, penso que, se um dia eu tiver um blu-ray, que roda os velhos DVDs, vou investir apenas em filmes de ponta – que por enquanto custam em torno de R$ 100, contra R$ 12 (os de catálogo) e R$ 39 (os lançamentos) de DVDs.
Se você quiser saber mais sobre O Poderoso Chefão em DVD, veja está ótima análise do DVD Magazine

Assim, acho que meus DVDs vão continuar por um bom tempo lá em casa.

4 comentários:

Rodrigo Motta disse...

Cananeia, eu leio o JP e sempre gosto de seus textos. Eu também sou um entusiasta da tecnologia (tenho uma empresa de Ti em CG) e ultimamente tenho investido em multimidia, edição de vídeos, Apps de iPhone, etc... e estou lendo muito sobre "o futuro". Gostei do seu texto, eu também tenho uma coleção de DVDs (por volta de 300) e com a compra de uma TV de LCD Sony Bravia 1080 fiquei preocupado de ver que muitos filmes em DVD já ficam pixelados, aumentando a minha necessidade por um blue-ray (que nesse caso será um PS3, pois ele dá um upscaling em videos de baixa resolução, tipo O Poderoso Chefão).

O que sei é que a tecnologia não espera por ninguem nem respeita nada. Não adianta ser saudosista, querer que coisas que gostamos permaneçam, pois a roda gira. A idéia de que TODAS, veja bem, TODAS as midias fisicas sejam substituidas por midias "virtuais" é, com certeza, o "futuro". Não que isso seja bom. Eu sou colecionador de HQs (essa sim minha paixão, com mais de 5 mil exemplares) e noto como essa mídia está "perdida" com os preços de impressão altos, cada vez sendo mais dificil publicar, ao mesmo tempo uma popularização gigante de HQs e tirinhas online, etc. A mesma coisa com o Jornal Impresso, que tem sua utilidade, mas não é páreo para a "notícia em tempo real" da internet. Até em video-games dá pra perceber isso. O PSP, portatil da Sony, que tinha uma midia propria, será atualizado agora e passará a ter apenas uma memoria virtual, TODOS os jogos serão baixados, comprados pela internet (ou seja, nem lojas existirão mais).

Não sei o que faremos com os nossos DVDs, HQs, mas sei que no futuro eles serão apenas artigos de museu, pois a informação em si existirá em outros suportes.

André disse...

Até concordo que as mídias virtuais irão substituir as físicas, e fatalmente eu terei lá minha pastinha com filmes em HD. Mas também acredito que os DVDs irão durar um bom tempo. Nem que seja lá em casa! (rs) Dia desses estava vendo Jornada nas Estrelas II e lá está o Capitão Kirk ganhando um par de óculos, quando a humanidade já tinha resolvido boa parte dos problemas de visão. Mas eles ainda eram necessários, sei lá quantas décadas depois. E para ler um livro feito de papel!!!!!

O blu-ray lê DVD. Tomara que continuem a fabricar dispositivos que leiam mídias físicas por um bom tempo. Enquanto houver leitor de DVD, meus DVDzinhos estarão lá.

Quanto ao upscaling, acho até que melhora a imagem e talvez eu tenho, no texto, confundido o termo. Na verdade, eu quis dizer que quanto mais definição, mais a imagem dos filmes antigos ficam GRANULADOS, já que é uma caracaterística da película original, como no caso do Chefão.

Valeu, Rodrigo.

Rodrigo Motta disse...

Quando eu falei em "durar" ou "substituir" eu não quis dizer que eles irão se auto-destruir. Veja bem, seus DVDs irão dura muito tempo na sua casa, até por que é uma coleção e por tras de toda coleção há uma história. Isso fica pra sempre. Mas imagine voce hoje em dia, chegando na casa de uma pessoa mais velha, e ela está assistindo um filme em VHS numa TV preto e branca daquelas com carcaça de madeira. Filme este que pertence a coleção de VHSs dela. A coleção dessa figura continua lá... mas, ela pertence ao... hoje?!

Sobre o upscaling tem outra informação legal do PS3: quando voce coloca um DVD (ou um video mesmo) pra assistir no PS3, ele detecta a resolução do mesmo e além do upscaling ele redimensiona a resolução da TV para que o vídeo não seja exibido "esticado", saca? Os aparelhos de blue-ray não fazem isso com os DVDs, ou seja, os DVDs serão exibidos esticados se a TV for 1080p, por exemplo. O PS3 tem essa capacidade justamente por que muitos jogos tem resolução diferente.

Valeu, um abraço!

Maurício Melo disse...

Primeiro: tu é véio hein, cara?
Segundo: nunca jogarei nada fora! Tenho dois vídeos cassestes em casa. Um deles de três cabeças e com controle remoto COM fio.
Terceiro: a indústria deveria parar de investir em plástico e começar a vender seus filmes pela rede. Se o preço for barato, as pessoas vão preferir comprar o mesmo filme mais de uma vez a ter que guardar em disco, virtual, ou físico.