segunda-feira, 18 de maio de 2009

Cinema sucateado

Para os mais de 270 espectadores que lotaram a sala 5 do Box Manaíra, em João Pessoa, na sessão das 14h30 do domingo (17), o filme Anjos e Demônios (EUA, 2009), foi um verdadeiro inferno.

Quem comeu “nas carreiras”, como se diz por aqui, para chegar na hora da sessão, quase teve uma indigestão quando uma senhora – a gerente – gritou, lá da portinha da sala: -A gente teve um probleminha no projetor e vamos atrasar 20 minutos!

Ou seja, a sessão, de 14h30, foi para 14h50.

Poucos foram os que desistiram e a sala – com capacidade para 292 pessoas – permaneceu lotada.

A sucessão de desastres começou mesmo quando euzinho aqui, inventei de ir lá, saber o que houve. A gerente explicou que o rolo com o filme ficou preso no projetor, eles estavam tendo dificuldades e a sessão só iria começar lá pelas 15h40.

Aí não... eu, que sai de casa para ver um filme às 14h30, teria que esperar 1 hora e 20 para começar a assisti-lo? E ainda em outra sala (a 6, menor, com capacidade para 188 pessoas). Ora, se eu escolhi o Box exatamente porque a sala 5 é a que tem a tela maior e o som "menos ruim" de João Pessoa, teria que me contentar com outra sala - ou ter o dinheiro de volta. Aí não.

A solução foi pior que a encomenda. E todo mundo foi transferido sala 5 para uma sala menor ainda, a 8 (137 lugares), às 15h10.

Foi um pandemônio que só estando lá para ver.

Gente correndo, em debandada, para garantir um lugar.

Imagino a cara de quem estava lá, tranquilo, esperando a sessão de Star Trek (marcada para às 15h), e ver a sala ser tomada por uma multidão ensandecida, afinal, acomodar um público de umas 270 pessoas – já que a sala 5 estava, seguramente, com 80% de sua capacidade – para uma sala de 137 lugares (pouco menos da metade da sala 5) é uma seleção braba.

Da porta, algum funcionário gritou: -O pessoal que quer ver Star Trek, por favor me acompanhe.

Ou seja: o pessoal que comprou ingressos para a sala 8, para ver o novo Jornada nas Estrelas, naquela hora, por favor, pague o pato! E sobrou para os coitados dos trekkers! Nem sei o que houve com eles.

Depois que uma parte do público - que saiu de casa para ver Anjos e Demônios às 14h30 na sala 5 - ter se acomodado, e outras tantas terem ido embora, a sessão, com 40 minutos de atraso, enfim, começou. E o ar-condicionado pifou.

Pois é. Você pensou que a jornada tinha chegado ao fim? Nada disso... um calor dos infernos tomou conta da sala e ficou difícil qualquer cristão se concentrar nas investigações de Robert Langdon para desbaratinar uma conspiração dentro da Igreja Católica.

Assistir a mais de duas horas de um filme, numa sala lotada e fechada, é a coisa mais desconfortável que alguém possa imaginar. Numa das cenas, onde há um incêndio, eu praticamente sentia as labaredas lambendo meu rosto, do calor que estava fazendo.

E logo no fim de semana em que os ingressos subiram de R$ 12 (em qualquer horário do fim de semana) para R$ 15 (R$ 13, para quem optar pelas sessões anteriores às 17 horas).

Nova reclamação e a contra-argumentação de que técnicos estavam trabalhando no ar-condicionado. O ar voltou faltando cinco minutos para o filme acabar.

Bem, o motivo deste post foi só o de compartilhar com quem gosta de ver filme em cinema – quem acredita no poder mágico da sala escura e tela grande – sobre o sucateamente do mais “sofisticado” (e caro) cinema de João Pessoa. É vergonhoso que o público - embora menor que capitais como São Paulo e até Recife - seja tratado com tanto desdém.

Numa era em que as salas investem em alta tecnologia – som THX, projeções 3-D e I-Max - ir ao cinema no Box do Manaíra Shopping chega a ser uma experiência sinistra – não estranhe se você se sentir Will Smith na Nova York de Eu Sou a Lenda.

O abandono do complexo, desde o hall sem vida, até o painel da bilheteria, onde ficam as sessões e os horários para os filmes, quebrado há dias – os horários podem ser vistos em papeis improvisados, colados em cima do painel –, passando por projetores e som defasados e sucateados (desculpem a repetição do termo, mas é proposital mesmo) é de dar desgosto.

E não é de hoje. De um ano para cá, o Box vem colecionando exibições desastrosas, perpetuadas por fãs frustrados que saem de casa para quebrar a cara. Teve Shine a Light, com os Rolling Stones, um filme-show, cujo som, na sexta-feira de estréia, foi um verdadeiro desastre.

Depois, eu mesmo fui ver Indiana Jones e a Caveira de Cristal e a projeção estava sem foco. E tive que ouvir da gerência, à época, que era porque a cópia era nova e eu esperasse alguns dias que era melhor. Ora, eu acreditaria muito mais se ele dissesse que era o equipamento sucateado, incompatível com novos rolos.

Depois fui ver Operação Valquíria e havia um barulho irritante na sala 6... um trac, trac, trac que me fez, até, odiar o filme estrelado por Tom Cruise.

E a estréia de Watchmen, dias atrás, repercutiu até na imprensa daqui. Imagem fora de foco, som ruim e o escambau revoltaram os fãs ansiosos da lendária HQ.

Hoje, é mais relaxante (e mais barato) ver um filme em casa num home-theater do que no Box. E aí vão botar a culpa na crise, botar a culpa nos piratas? Sem o mínimo de qualidade e conforto, os que ainda tem dinheiro para investir (isso mesmo, o preço é tão alto que ver um filme no cinema virou investimento) vão preferir investir mesmo é num bom equipamento caseiro... e ser feliz assim.

4 comentários:

Natalia disse...

É revoltante mesmo. Eu só continuo indo naquela merda porque odeio filme pirata e amo ir ao cinema. Prazer esse que o Box tem ajudado a acabar.
Fui ver Wolverine no primeiro dia de exibição, ultima sessão, e a sessão atrasou quase meia hora porque como não há fiscalização nas portas varias pessoas de outras salas entraram e muitos que tinham comprado ingresso ficaram sem ter onde sentar. Aí depois de muita confusão a gerente veio dizer que a culpa era a falta de educação de certas pessoas. Quase avancei nela.

André disse...

Pode soar contraditório, mas uso a pirataria por pirraça mesmo. Acho tudo isso uma filhodaputice. Não pago essa nota preta que cobram por aí, ainda mais por esta terra de ninguém que tem se tornado o cinema na província. Se lasquem, neste ponto, prefiro cair mesmo na pirataria mais deslavada (e os meus fornecedores estão melhores na qualidade). É um mito essa do "piratinha com erros, imagem borrada e tal". Amo o cinema sim. Ajeitem essa safadeza e baixem o preço que continuo indo. Até lá não deixo de ver filme por nada neste mundo.

Audaci Junior disse...

E depois reclamam de DVD PIRATA, etc.??!! O Multiplex não tem lá o sistema de som digital, mas pelo menos está mais novo do q o BOX Cinemas! No episódio de "Watchmen" peguei meu dinheiro e fui ver lá... e mais barato! Uma vergonha mesmo! Parabéns pelo texto e BOX só em DVD das séries q gosto!

André disse...

Bem, o Box Cinemas me respondeu, para uma matéria do Jornal da Paraíba. Pela ética, só posso disponibilizar essas informações amanhã, depois do Jornal da Paraíba. Sugiro que quem der uma passadinha por aqui, e quiser saber os desdobramentos deste caso, procure a edição desta terça-feira (19) do Jornal da Paraiba, nas bancas ou no www.jornaldaparaiba.com.br.