sexta-feira, 24 de abril de 2009

Rock com acordes sujos de graxa


JP-Crítica*
Por André Cananéa

O vovô Neil Young poderia ter se tornado um sexagenário resmungão, depois de uma vida dedicada a compor canções com letras excepcionalmente bem escritas sobre as mazelas do mundo. Mas muito pelo contrário. No alto de seus 63 anos de idade, ele cai na estrada – literalmente – a bordo do LincVolt, projeto que transforma seu Lincoln Continental 1959 conversível de duas toneladas e meia - divididas em seis metros de comprimento - em um carro movido a eletricidade.

É essa máquina que impulsiona Fork In The Road (importado, US$ 19), seu 32º álbum de carreira, recém-lançado nos Estados Unidos. É o carro ecologicamente correto, cortando os Estados Unidos via a famosa Rota 66, que inspira as letras do novo trabalho. Afinal, como canta em “Just singing a song”, não é só cantando música que se muda o mundo. Tem que ter atitude também.

Para curtir a viagem, sacar as letras é fundamental. Mas Fork In The Road não é dos mais engajados discos de Young. O papo aqui é carro, estrada e mulher. Obcecado por carros antigos, o músico canadense retoma o tema de Chrome Dreams 2 (sonhos cromados, numa referência a carros antigos), disco lançado há dois anos – curiosamente, Chrome Dreams 1 nunca chegou a ser lançado.

As referências são diretas: “Fuel line”’ (mangueira de combustível), “Get behind the wheel” (assuma a direção) e “Hit the road” (pegar a estrada) são alguns dos títulos das faixas. O single (o primeiro deste 2002, com direito a vídeos que podem ser vistos no site oficial do cantor), “Johnny magic’’, é um tributo a Jonathan Goodwin, o mecânico que cuida do projeto LincVolt.
Mas temas atuais não são deixados de lado. A guerra no Iraque (na faixa-título “Fork in the road”) e a crise econômica mundial (“Cough up the bucks”) são citadas em meio a um disco vigoroso, que deixa as baladas de folk e country comendo poeira e acelera com acordes sujos de graxa. O hard rock e o blues garageiro são os combustíveis que impulsionam esse trabalho. Aumente o volume e curta a viagem.

* Publicado no JP Crítica, pág. 4 do caderno Vida & Arte da edição de 23 de abril de 2009 do Jornal da Paraíba.

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