Aqui vai uma informação de bastidor: perguntar se Herbert gostaria de vir morar em João Pessoa, cidade onde nasceu - mas também só fez nascer e sair correndo, como se diz no popular -, se tornou pauta obrigatória toda vez que eu entrevistava o vocalista dos Paralamas do Sucesso, principalmente depois do acidente e, mais ainda, nos últimos tempos.
De uns anos para cá, passada aquela euforia do retorno de Herbert aos palcos, que durou até o disco ao vivo de 2004, eu vi o vocalista de uma das bandas que eu mais gosto, que eu acompanho desde o comecinho, lá atrás, simplesmente perder o brilho nos olhos. Coisa que vem se acentuando de uns dois anos para cá.
Bem, pelo menos esta é a visão de quem está vendo os Paralamas lá de baixo, no público, na geral, e vê um Herbert cansado. E olha que eu vejo, pelo menos, uns dois shows dos Paralamas por ano, seja em João Pessoa, onde moro, Recife, aqui pertinho, ou Natal, ou em festivais que cubro, para usar a palavra do momento, "Brasil afora"! E sempre procuro ir até os bastidores arrancar alguma declaração para os jornais, como se eu fosse o carinha do filme Quase Famosos - tenho matérias publicadas sobre o Paralamas tanto no Jornal da Paraíba, quanto em O Globo e O Jornal do Brasil.
Mas também pode ser que Herbert só estivesse cansado das mesmas coisas. Pode ser que a nova turnê dê ânimo ao nosso conterrâneo. Quando Herbert pegou o telefone, na tarde da última quarta-feira (11), ele estava bem animado, brincalhão, fazendo sotaque nordestino e falando "oxente bichinho" a todo instante. Ao final, pediu que eu reservasse um espaço na matéria para publicar que ele mandava beijos e abraços para a família na Paraíba. Infelizmente, o espaço limitado do jornal impresso não permitiu que isso acontecesse... mas aqui está registrado.
Aqui vai a matéria que saiu no jornal. Logo em seguida, a crítica que fiz para o disco e publiquei na mesma edição.
O Brasil colorido dos Paralamas
Por: ANDRÉ CANANÉA
O calor do verão brasileiro é a fonte de inspiração do novo trabalho dos Paralamas do Sucesso, Brasil Afora (EMI). Mais leve e “pra cima” que os dois anteriores, o disco reflete uma fase mais “relaxada” do trio carioca. “Com os dois primeiros discos depois do acidente – Longo Caminho (2002) e Hoje (2005) -, a gente queria mostrar que estávamos vivos e ativos, mas estávamos todos naquela tensão. Agora a gente relaxou. Pelo menos pensando agora, vendo o disco feito. Entre os três, é o disco que fluiu mais fácil”, conta o baixista Bi Ribeiro, por telefone.
Em 2001, o vocalista Herbert Vianna sofreu um acidente de ultra-leve em Angra dos Reis que o deixou paraplégico e com perda da memória recente, além de ter vitimado, fatalmente, a esposa Lucy. A deficiência de Herbert, no entanto, não o impediu de continuar compondo letras e arranjando músicas com Bi e o baterista João Barone. Das onze faixas do CD, oito têm letra de Herbert e música dos três Paralamas.
“Herbert escreve direto. Vive com caneta, papel e um gravadorzinho. A gente vai pela estrada afora e ele está sempre compondo. São todas músicas de dois anos para cá”, confirma Ribeiro. “Herbet esta se entendendo mais com ele mesmo. Esta mais consciente. Ele teve os danos cerebrais, mas tem melhorado muito. Este disco é reflexo da melhora de Herbert”.
Uma das músicas compostas pelo vocalista, “Mormaço”, foi inspirada em João Pessoa, cidade natal do músico. “Eu comecei a escrever a música aí em João Pessoa, mas vim terminar aqui no Rio. Eu fiquei superalegre em conseguir manifestar, pela minha cidade natal, o bem que ela me faz”. A letra, um tanto controversa (leia crítica na página 4), traz a participação de outro ilustre paraibano, Zé Ramalho. “Zé Ramalho gostou muito da divisão da música, de forma que não tem aquela coisa de cantor convidado, mas uma troca natural entre a gente. Assim, ele cantou com aquele sorriso de Zé Ramalho e isso fez muito bem a gente”, comenta Herbert, também por telefone.
Herbert, por outro lado, manifestou a vontade de morar na Paraíba. “Um dia desses, a minha filha do meio, Hope, me sacudiu e falou: -Pai, vamos menos para Inglaterra e mais para a Paraíba. Ela me disse isso olho no olho, com seriedade e muita vontade. Porque eu levei meus filhos para João Pessoa e quando eles se deram conta da temperatura do mar, do sabor do sorvete de mangaba, do carinho das pessoas, da amplitude da nossa família aí, isso tudo provocou um vulcão emocional no coração deles e aquilo me comoveu de uma maneira muito tocante. E volta e meia, ela me diz: - Então, pai, quando a gente vai de novo a João Pessoa?!”, declarou.
Com isso, o músico admite que pensa em vir morar em João Pessoa. “Eu já considerei essa ideia. E não só pelo fato de que as minhas crianças se entusiasmam a respeito, mas pela velocidade e a integração do país, que está reduzindo a zero as diferenças regionais em termos de acesso à cultura, canais de informação e qualidade de vida, coisas como ter muito mais qualidade no deslocamento, no acesso à escola... tudo isso, eu comecei a pesquisar e abri portas para que, em algum momento, quando me ocorrer um clique de que as condições estejam dando luz verde, eu adoraria viver em João Pessoa”.
Brasil Afora, o 12º disco de estúdio da banda, levou dois anos para ficar pronto. O trio começou a trabalhar no álbum em 2007 e esperava gravá-lo ainda naquele ano. Mas a agenda de shows e a turnê com os Titãs (que passou pelo ‘Fest Verão’ Paraíba no mês passado) adiaram o projeto para o meio de 2008, quando o grupo partiu para Salvador (BA) e gravou o disco no estúdio de Carlinhos Brown.
“Um dia a gente foi ensaiar com Brown para a turnê Paralamas-Titãs no estúdio dele. O estúdio é o maior barato, um salão enorme, sem divisão da parte técnica com o instrumental. Um astral danado, cheio de instrumentos pendurados em todo o canto. A gente pensou: -Poxa, a gente poderia gravar aqui. Além do mais, era aquela coisa de sair de casa, se concentrar em uma semana e gravar tudo de uma vez. Gravamos 80% lá e depois voltamos para o Rio para botar teclados, metais e terminar o disco”, revela Bi Ribeiro.
Brown não emprestou apenas o estúdio, mas também a voz e duas músicas (“Sem mais adeus”e “Quanto ao tempo”). O disco também tem parceria do produtor Liminha com Arnaldo Antunes (“A lhe esperar”).
Em 2001, o vocalista Herbert Vianna sofreu um acidente de ultra-leve em Angra dos Reis que o deixou paraplégico e com perda da memória recente, além de ter vitimado, fatalmente, a esposa Lucy. A deficiência de Herbert, no entanto, não o impediu de continuar compondo letras e arranjando músicas com Bi e o baterista João Barone. Das onze faixas do CD, oito têm letra de Herbert e música dos três Paralamas.
“Herbert escreve direto. Vive com caneta, papel e um gravadorzinho. A gente vai pela estrada afora e ele está sempre compondo. São todas músicas de dois anos para cá”, confirma Ribeiro. “Herbet esta se entendendo mais com ele mesmo. Esta mais consciente. Ele teve os danos cerebrais, mas tem melhorado muito. Este disco é reflexo da melhora de Herbert”.
Uma das músicas compostas pelo vocalista, “Mormaço”, foi inspirada em João Pessoa, cidade natal do músico. “Eu comecei a escrever a música aí em João Pessoa, mas vim terminar aqui no Rio. Eu fiquei superalegre em conseguir manifestar, pela minha cidade natal, o bem que ela me faz”. A letra, um tanto controversa (leia crítica na página 4), traz a participação de outro ilustre paraibano, Zé Ramalho. “Zé Ramalho gostou muito da divisão da música, de forma que não tem aquela coisa de cantor convidado, mas uma troca natural entre a gente. Assim, ele cantou com aquele sorriso de Zé Ramalho e isso fez muito bem a gente”, comenta Herbert, também por telefone.
Herbert, por outro lado, manifestou a vontade de morar na Paraíba. “Um dia desses, a minha filha do meio, Hope, me sacudiu e falou: -Pai, vamos menos para Inglaterra e mais para a Paraíba. Ela me disse isso olho no olho, com seriedade e muita vontade. Porque eu levei meus filhos para João Pessoa e quando eles se deram conta da temperatura do mar, do sabor do sorvete de mangaba, do carinho das pessoas, da amplitude da nossa família aí, isso tudo provocou um vulcão emocional no coração deles e aquilo me comoveu de uma maneira muito tocante. E volta e meia, ela me diz: - Então, pai, quando a gente vai de novo a João Pessoa?!”, declarou.
Com isso, o músico admite que pensa em vir morar em João Pessoa. “Eu já considerei essa ideia. E não só pelo fato de que as minhas crianças se entusiasmam a respeito, mas pela velocidade e a integração do país, que está reduzindo a zero as diferenças regionais em termos de acesso à cultura, canais de informação e qualidade de vida, coisas como ter muito mais qualidade no deslocamento, no acesso à escola... tudo isso, eu comecei a pesquisar e abri portas para que, em algum momento, quando me ocorrer um clique de que as condições estejam dando luz verde, eu adoraria viver em João Pessoa”.
Brasil Afora, o 12º disco de estúdio da banda, levou dois anos para ficar pronto. O trio começou a trabalhar no álbum em 2007 e esperava gravá-lo ainda naquele ano. Mas a agenda de shows e a turnê com os Titãs (que passou pelo ‘Fest Verão’ Paraíba no mês passado) adiaram o projeto para o meio de 2008, quando o grupo partiu para Salvador (BA) e gravou o disco no estúdio de Carlinhos Brown.
“Um dia a gente foi ensaiar com Brown para a turnê Paralamas-Titãs no estúdio dele. O estúdio é o maior barato, um salão enorme, sem divisão da parte técnica com o instrumental. Um astral danado, cheio de instrumentos pendurados em todo o canto. A gente pensou: -Poxa, a gente poderia gravar aqui. Além do mais, era aquela coisa de sair de casa, se concentrar em uma semana e gravar tudo de uma vez. Gravamos 80% lá e depois voltamos para o Rio para botar teclados, metais e terminar o disco”, revela Bi Ribeiro.
Brown não emprestou apenas o estúdio, mas também a voz e duas músicas (“Sem mais adeus”e “Quanto ao tempo”). O disco também tem parceria do produtor Liminha com Arnaldo Antunes (“A lhe esperar”).
JP CRÍTICA
Um disco ensolarado
Por: ANDRÉ CANANÉA
Inspirada sim, homenagem, nem tanto. O calor e a pobreza de João Pessoa são ressaltadas na letra da música “Mormaço”, que acompanha o colorido encarte de Brasil Afora (EMI, R$ 25, em média). Logo, se você imaginava que a música de Herbert Vianna, dedicada à cidade natal do vocalista, era a nova “Meu sublime torrão”, esqueça. A canção não é exatamente o que os nativos da cidade gostariam de ressaltar numa cidade de mar azul e ruas tão arborizadas.
Entretanto, a delicadeza do arranjo, cuja sonoridade remete à obra do convidado Zé Ramalho, pode revelar, nas entrelinhas, uma cidade que resiste, imponente, a tantas adversidades. E é muito provável que daqui a alguns meses, quando a nova turnê passar por João Pessoa, pessoenses cantem junto o refrão.
Brasil Afora, em seu conjunto, é tudo aquilo que os Paralamas vêm falando: um disco pra cima. Mais, é um Paralamas legítimo, que retoma os tempos de Bora-Bora e Big Bang, sem nada a acrescentar ou suprimir. É apenas o bom e velho Paralamas do Sucesso, com direito a novos hits, como a versão que Herbert fez para “El amor después del amor”, de Fito Paez, que virou apenas “El amor”, e o reggae “Quanto ao tempo”, de Carlinhos Brown e Michael Sullivan, este um dos maiores hitmakers dos anos 1980.
Curto (o CD dura pouco mais de meia hora) e de faixas curtas (média de 3 minutos), o astral dá as caras logo no começo. “Meu sonho” (de Herbert), “Sem mais adeus” (novamente de Brown, agora com Alain Tavares) e “A lhe esperar” (assinada pelo produtor do disco, Liminha, em parceria com Arnaldo Antunes), que tem muito metal (o sax e o trombone sempre bem colocados de Monteiro Jr. e Bidu Cordeiro), é a trindade que exala ska, dub e reggae e aqueles ritmos latino-americanos que marcaram a fase de maior sucesso dos Paralamas.
Depois, o álbum alterna entre rock, balada, mais reggae e até timbres nordestinos. Mas fique tranquilo: Brasil Afora é quente como as praias do Nordeste e delicioso como um côco gelado. Um disco que evoca os Paralamas que a gente gosta.
Entretanto, a delicadeza do arranjo, cuja sonoridade remete à obra do convidado Zé Ramalho, pode revelar, nas entrelinhas, uma cidade que resiste, imponente, a tantas adversidades. E é muito provável que daqui a alguns meses, quando a nova turnê passar por João Pessoa, pessoenses cantem junto o refrão.
Brasil Afora, em seu conjunto, é tudo aquilo que os Paralamas vêm falando: um disco pra cima. Mais, é um Paralamas legítimo, que retoma os tempos de Bora-Bora e Big Bang, sem nada a acrescentar ou suprimir. É apenas o bom e velho Paralamas do Sucesso, com direito a novos hits, como a versão que Herbert fez para “El amor después del amor”, de Fito Paez, que virou apenas “El amor”, e o reggae “Quanto ao tempo”, de Carlinhos Brown e Michael Sullivan, este um dos maiores hitmakers dos anos 1980.
Curto (o CD dura pouco mais de meia hora) e de faixas curtas (média de 3 minutos), o astral dá as caras logo no começo. “Meu sonho” (de Herbert), “Sem mais adeus” (novamente de Brown, agora com Alain Tavares) e “A lhe esperar” (assinada pelo produtor do disco, Liminha, em parceria com Arnaldo Antunes), que tem muito metal (o sax e o trombone sempre bem colocados de Monteiro Jr. e Bidu Cordeiro), é a trindade que exala ska, dub e reggae e aqueles ritmos latino-americanos que marcaram a fase de maior sucesso dos Paralamas.
Depois, o álbum alterna entre rock, balada, mais reggae e até timbres nordestinos. Mas fique tranquilo: Brasil Afora é quente como as praias do Nordeste e delicioso como um côco gelado. Um disco que evoca os Paralamas que a gente gosta.
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