quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A ovelha azul da família


O cinema independente americano tem muita ruim, mas também tem muita coisa legal.

Despretensioso, divertido, leve e com uma história bem amarradinha, conduzida por um único personagem e meia dúzia da coadjuvantes bem curiosos.

Kabluey, que parece ser completamente desconhecido no Brasil, é um filme que botei pra rodar só pra ver o comecinho. Quando me dei conta, já estava acabando (até porque é curto, tem uns 80 minutos).

Salman (igual a Salman Rushdie, piada que o roteiro não se furta em usar) é um alesado que não consegue parar num emprego porque não consegue fazer nada direito.

Sem ter para onde ir, vai ser babá dos dois sobrinhos pequenos, que são dos mais endiabrados que eu vi no cinema, enquanto o irmão luta no Iraque e a cunhada passa o dia trabalhando.

Acontece que a cunhada, com pena do pobre diabo, acaba arrumando-lhe um emprego na empresa onde trabalha.

O emprego, definitivamente, não é dos melhores, mas é um emprego. O sujeito é deixado numa BR, no meio do nada, numa fantasia de um boneco azul, de cabeça gigante, sem rosto, com braços, pernas e braços, mas sem mãos - o que dificulta manusear qualquer objeto - e quase sem ventilação, com o propósito de distribuir panfletos da firma, cujo boneco é a logomarca.

Nesse universo, gira em torno do pobre Salman uma cunhada completamente perdida, sem marido e perspectivas, a esquisita balconista de um supermercado, a chefe insana do rapaz, uma motorista que insiste em atropelá-lo, só porquê não gosta da empresa, os passageiros do ônibus que o leva ao trabalho e, claro, os dois danadinhos.


A direção é do próprio cara que faz Salman, Scott Prendergast, um cara sem grandes atrativos no currículo. Além de dirigir e atuar, ele também escreveu o roteiro. Pois bem, o roteiro é bem amarradinho, como já disse, e a direção é criativa. Há ótimas passagens e resultados muito bons, sobretudo entre ele e as crianças e nas piadas envolvendo o boneco azul gigante.

Quem faz a mãe dos garotos é a Lisa Kudrow que, se não me falha a memória, nunca conseguiu emplacar muita coisa além de comédia e, principalmente, se livrar do stigma de “ah, é a Phoebe de Friends”. Por isso, este aqui talvez seja o seu grande papel dramático, afinal, ela exorciza de vez a atabalhoada Phoebe para encanar a série mãe de dois filhos na condição de “noiva da guerra”, como ela mesma diz.

Não é a obra-prima que vai ganhar o Oscar, mas é uma comédia sensível e tocante, para públicos de alma pura.


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